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Hear stars
We trust the stars to go against our instincts.
We look up at them from below
Hoping for the divine.
The honesty that can only come from it.
Fragile questions of time.If only they could see us too
We could hear the stars fall.— Dez, 2024
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Sem corpo ou origem
Sem corpo ou origem
Caminho costurada
Em nuvens que se reúnem cobrindo esta precoce paragem
Assente num sono azul beijado por pingos amarelosA realidade é concebida pelo engano.
Estou como fui.
Ando como posso.Teria morrido à chuva mais cedo se conseguisse.
Já não sei onde estou há algum tempo.Em constante vertigem
Com o vazio desprovido de qualquer remate
O longo silêncio
Com ouvidos expectantes
E a boca sôfrega
Pela regurgitação de pedaços de luz
Despojos por descobrirContra a parede
Na confusão das coisas
Durmo entre as pestanas inferiores
E a comichão dos raios solares presos entre elas.Ouço a queda das estrelas
Enquanto preparo os olhos para o fecho.
— Nov, 2024 -
Whisper
Suddenly he heard it
The more it spoke to him,
The less he understood.Confused
Dazed
He swallowed what he heard
And kept it close to his ear
For the future— Nov 2024
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Voz
O perímetro das palavras ocupam em ti uma voz que fala surdina. Consegues ouvir?
Uma presença que habita gentilmente o teu interior.
Talvez a origem do nosso mundo esteja aí. E caduque a cada expiração.
Mergulhamos na fissura adentro. Divagamos no emaranhado de possibilidades e conexões de pontos de vista. Naufragamos mais um pouco, uma e outra vez, entre vozes opacas e tumultuosas. Na pele a fricção da diferença, a violência de uma queimadura, o dilúvio da carne. Atravessar um marmorto buscando imaginar caminhos possíveis.
- É urgente contar histórias que cantem o que há de vir! -
Na poeira, chegamos ao limite do perímetro platinado de ouro flamejante. Já mudos de tudo aquilo que ousámos dizer, estamos cada vez mais afastados das nossas vozes.
Perdemos as nossas vozes na surdez do que nos rodeia.
Perdemo-las por entre o ruído das cidades, a televisão alta a servir de conforto aos nossos lares, as notificações de telemóvel de última geração, o teclado do escritório.
De que forma se pode alongar e encolher o corpo inteiro num mundo cacofónico?
Resta-nos apenas talvez a nossa singular essência. Essa paisagem de ressonâncias onde todos são um exercício de alcance do ser na fronteira que separa o som do silêncio.
— Nov 2024 -
Costa
As cidades que ficam na costa são muito mais mar do que terra.
— Póvoa de Varzim. Nov, 2024 -
Travessa de fruta
Leva-nos em busca de alguém que se perdeu do seu lugar no mundo.
Entra adentro numa travessia do luto com a valentia. Sem medo, devolve-nos um mundo plural. Os limites dos espaços visitados e os obstáculos dos lugares.
Uma criança mede-se pela sua abertura ao desconhecido. Nem só as vítimas são inocentes.
Leva-nos para cima da mesa. À volta cadeira. Para sentar toda a gente: os que têm pernas compridas, os que não conseguem estar quietos.
Uma travessa em cima da mesa cheia de fruta.
Sentemo-nos à mesa com o espanto de ver o sofrimento do mundo.
O nevoeiro esconde-nos do mundo e o mundo de nós. Um julgamento impossível. Esta será a nossa tragédia.
Sombras a jogarem à bola no terreno baldio ao lado, sem se lembrarem da origem dos seus nomes.
— Out 2024 -
Traças
Chegou o dia em que notas de leitura, cadernos de apontamentos, fotografias, cartas e diários precisam de amigos.
Cada Estado é governado por um regime de células familiares patriarcais por excelência. Criaturas superficiais, traças à volta da luz.
Cada uma delas incapaz de tolerar a escuridão solitária e de partilhar a luz sem se colidir.
Quanto veneno!
Quanta maldade!
Quanto amor perdido!
Que nada me toque. Só os raios de Sol.
— Out 2024 -
Engomado
Reza do costume bem angomado
Que a vida só traz nódoas e borbotos. Uma peça descabelada de uma imaginação preversa e delirante deixada à mercê dos elementos.
Voltar-nos a fazer ao caminho a braços com as sequelas da guerra em plena catástrofe climática, numa plateia onde narrativas competem para se fazer ouvir sem dar ouvidos.
De pernas para o ar. Pedindo de empréstimo uma palavra inventada e o repertório universal com pospontos.
No Inverno buscamos agasalhos.
Na Primavera a mudança da hora e dias mais tépidos.
Ficar de mangas de camisa à procura da esperança e do pequeno-almoço.
— Set 2024 -
Passarada
Eu não sou despassarada.
Tenho é muitos pássaros a voar em mim.
— Ago, 2024 -
Cada
Em cada mesa uma árvore.
Em cada casa as suas sementes.
— Mar, 2024 -
Ditado (im)popular
Nem tudo Santo.
Nem tudo Pecador.
— Ago, 2024 -
Summer
This summer I want to swim in your arms.
— Ago, 2024 -
Frincha
A pele do avesso
Perguntas pendentes pela distânciaCasa vazia de mudanças
Caixotes de peças frágeis escritos a marcador grosso
As persianas corridas
A marca das molduras na parede ainda com o prego
Entre a frincha do candeeiro da rua
fica a medida de um silêncio absoluto
A carpete à espessura do chão.
A noite traz a luxúria da tristeza
A legítima defesa.Hoje não quero que ninguém me queira.
Amanhã acordo cedo.— Mai, 2024
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Vento
Há palavras que são como o vento.
Ou as apanhas, ou elas passam por ti.
— Mai, 2024 -
Pineda de Mar
Manhã de Sábado
Junto ao mar
Maré alta.
Grãos de areia entre os dedos do pé.
Um barco no limite do horizonte.
Quase a cair.
As palmeiras de sombra fina.
Persianas corridas à espera de serem habitadas pelo Verão
Maré vaza.
— Mai, 2024 -
Barcelona
Desafoga a foz de pombos nos beirais sobre a calçada.
As varandas sobre a praça.
As vizinhas de cotovelos cerrados sobre o parapeito como garfos esfomeados do amanhecer.
As ruas estreitas onde o sol se esqueceu de entrar.
— Mai, 2024 -
Great
Do great
See greatness
Be grateful
— Jun, 2024 -
Noite
Não podes fugir da noite, apenas atravessá-la.
— Mar, 2024 -
8 Março
É nossa condição comum e mortal que lutemos até morrer pela liberdade, igualdade e justiça - mesmo sabendo antecipadamente que morreremos sem nunca a conquistarmos verdadeiramente.
— Mar, 2024 -
Palestina
Olhando a chuva
São tempos de guerra, mais turvos que a névoa. Chove no meu tempo ainda, neste territtório fronteiriço.Na hora de vento e de crua maré
Os olhos agarram-se às crinas do mar.Mas lá longe,
Oriente dos meus dias,
A chuva é só de fogo.Talvez voar
Talvez água,
Talvez o Outono suceda ao Inverno.E as crianças
Naquele vento
Voem de muito imaginar.
— Mar, 2024
[cut-up] -
Hiper-consumo
Alguma vez nos perguntámos o que aconteceria se todo o sistema fosse uma viagem a um dos nossos aparelhos eletrónicos e elétricos como transporte de entregas para outro mundo, que não existe, mas pode funcionar de repente?
No espaço aéreo mais próximo conseguiríamos facilmente indagar a obsolência desta forma de mudança que altera a vivência de a imaginar. Será que a cidade planeada moldou as nossas vidas e a economia assim como a relação com a cidade e a sua arquitectura? Ou um planeta de 10 milhões de drones e pessoas, onde se abandonam os construtores, começam deliberadamente a ser utilizados como meios redesos produtos de consumo?
Cidades estão ligadas a uma única grande procura: sair rapidamente da metrópole híper-densa onde vivem todas as crises económicas. Projetadas para durar ‘para sempre’ - mudando radicalmente o que podemos - impõe-se um plano ou um modelo.
Contudo há mais a atingir através de um novo modo de ‘olhar’ que obedientemente teremos de em 110 anos seguir.
Esta é uma ficção especulativa onde podemos ser substituídos por esta nova tecnologia que se irá brevemente tornar coletiva e que nos obriga a refletir sobre nós como produtos ‘a prazo’. De uma utopia para o nosso quotidiano, levantando dúvidas sobre o nosso próprio planeta.
Num mundo iniquo com questões sobre a sua utilização. O filme prossegue numa digressão entre o poluído e o decrescimento.
Na cidade, onde precisamos de desaprender a consumir, dando uma volta de 365 dias, não é viável para o planeta, um carnaval e esta cultura do consumir ‘ad infinitum’. É imperativo refletir sobre esta mudança rápida e revolucionária.
— Mar, 2024
[cut-up] -
Teresa
A teresa tinha uma taça de toranjas.
Tamanha era a taça que as toranjas lhe tombaram.
Tonta a Teresa tropeçou na taça e o tornozelo torceu.
Foi a taça e as toranjas que lhe trocaram
fizeram-la tombar sobre a taça e o torcicólogo que temeu
Treme a Teresa de testa torta triste com tirania sobre a taça de toranjas.
— Mar, 2024
[tautograma] -
Manhã no café
As manhãs têm este poder de ainda se poder ser tudo no resto do dia. Não há ainda arrependimentos. Restam-nos ainda horas infinitas pela frente.
À tarde já somos culpados.
Não saímos mais cedo da cama.
Todos somos dentro de nós um cemitério de manhãs.
— Mar, 2024 -
Criatura
A fome é criatura.
O desejo é uma coisa, a fome é outra.
De um modo ou outro, numa forma abstrata ou concreta. É um abismo
É a derrota
Porque nasce contra vontade
Imaterial
Pornografia ou violência, tiros, ‘mata e esfola’, efeitos especiais, ressurreição.
A fome nasceu por vontade própria
E de vez em quando atira uma coisa para o consciente: SalSe não tivéssemos fome, não comíamos; não comendo, não sobrevivíamos.
É um bocado como o gato,
fica preso às casas porque nelas se passaram histórias.Escolhemos a entrada, depois um corredor, depois esta sala fica aqui, a outra deve ficar acolá.
A fome é a minha casa.
E em casa falta-me espaço.
— Fev, 2024
[cento] -
Inguiço
Façam de mim um inguiço
Não posso mais ser senão esta cama.
A manhã alcança o tamanho da ombreira.
A luz arromba o quarto pelas cortinas de bainha por fazer.
Há demasiado Verão lá fora.
E o inverno ainda me passa dentro
Não me serve este calor fora de época.— Dez 2024